Farpas de Gelo



~ quinta-feira, setembro 12, 2002
 
Capitulo XIX


- Me ajuda aqui! - Alea pediu, enquanto tentava levantar o homem desmaiado. Um tanto relutante, Arthur pegou o outro braço do rapaz para passá-lo por cima do ombro. Encostar nele causou em Arthur uma certa repulsa, embora ele não soubesse dizer exatamente o porquê. Recusava-se a pensar muito no assunto. Não era hora. Precisavam, antes de tudo, sair dali.

Alea e Arthur ergueram Gilbran. Alea olhou em frente, em volta, e suspirou. Um princípio de pavor começou a tomar conta de Arthur. Ela tinha entrado ali com tanta certeza de si, não podia ser verdade que ela não tivesse um plano de fuga! Como que lendo os pensamentos dele, Alea comentou:

- E agora, como é que a gente sai daqui?

Arthur sentiu o sangue congelar nas veias. Era isso! Estavam ferrados. No final do corredor - o que restou dele - já ouviam os passos de vários policiais subindo as escadas. Um impulso de largar Gilbran e correr percorreu os músculos de Arthur, mas ele não o fez. Pensou em Alea. Não iria deixá-la sozinha. Ela precisava de...

Nesse exato momento, Alea largou Gilbran e correu. Assustado, Arthur aparou a queda do estranho desmaiado. E viu quando Alea dirigiu-se à janela atrás deles e a escancarou. "Meu deus, ela não vai sobreviver à queda!" - Arhur pensou, e estendeu o braço para tentar impedí-la, mas para sua surpresa, Alea deu meia volta, dirigiu-se aos armários, e foi fechando, uma a uma, as portas que abrira. Apenas a porta do armário onde encontraram Gilbran e as últimas três da outra ponta foram deixadas abertas. Então, ela entrou em um dos armários da ponta, olhou para Arthur, e ele imediatamente entendeu. Arthur atirou Gilbran de qualquer jeito dentro de outro armário, fechou a porta, e se trancou no último. O lugar era extremamente apertado e escuro. Arthur desejou muito não descobrir nenhuma claustrofobia apagada pela amnésia naquele momento. Em poucos instantes, os passos encheram o lado de fora. Eram muitos. Arthur prendeu a respiração. Com sorte, eles seriam imbecis o suficiente para não procurar dentro dos armários. Através da porta, ele ouviu a voz do garoto que tinham deixado pra trás. O maldito garoto! Havia esquecido dele:

- Aqui é o Cadete Ferrison! Não atire, senhor!

- Reporte, soldado!

- Dois invasores, senhor. Um homem e uma mulher. Estavam armados, e me renderam! Queriam o prisioneiro do fim do corredor!

- Quais as suas condições, garoto?

- Eu estou... eu... peço permissão para me recompor, senhor.

- Ok, saia daqui logo. Você já foi ineficiente o bastante.

- Sim, senhor. - respondeu o garoto, com voz baixa de vergonha. Os passos se aproximaram do fim do corredor, e agora estavam na mesma sala dos armários.

- Senhor, o prisioneiro foi levado!

- Filhos da...

- Senhor, veja. A janela está aberta. Eles devem ter pulado!

- Confirma visual dos corpos?

- Negativo!

- Senhor, as chances de sobrevivencia de uma queda dessa altura são remotas.

- Eles não pularam. Vasculhem cada saleta!

Arthur sentiu novamente a adrenalina varrer seu corpo. Eles não tinham caído. Agora era questão de tempo até que os encontrassem.

Os passos do lado de fora eram confusos. Ora se afastavam, ora se aproximavam. Alguns passavam bem perto. E de repente, todos pararam. O silêncio parecia irreal. Arthur sabia que eles ainda estavam ali. Mas por que estavam parados? Teriam ouvido algo? Uma gota de suor gelado desceu por sua nuca. E repentinamente, ele ouviu um barulho alto. A porta de um dos armários havia sido aberta!

Logo em seguida outra porta foi escancarada, e outra. Arhur percebeu que eles estavam abrindo todas as portas, desde a ponta. Embora se sentisse aliviado por não terem começado pela sua ponta, ele sabia que encontrariam Alea. Pelas suas contas, faltavam duas portas. Uma foi aberta. Outra. Arthur se preparou para saltar de seu esconderijo e pular em cima do primeiro policial que encontrasse.

Então, ao longe, houve uma grande explosão. E o prédio tremeu.

- Merda! O que foi... - a voz do policial foi cortada por outra explosão. Então a voz do comandante do batalhão soou:

- Reagrupar! Estamos sob ataque! Rápido, para o primeiro andar! - E os passos se afastaram na direção da escada. Arthur ainda ficou parado por alguns instantes. Uma terceira explosão fez o prédio tremer ainda mais, e a porta da cabine onde ele estava foi repentinamente escancarada. Era Alea.

- O que foi isso? - Perguntou Arthur, ainda atordoado pela tensão.

- Meu pai. Ele vai me matar! - Respondeu Alea, com ar de criança que prevê um castigo terrível. Ela abriu o armário onde Gilbran estava, e o segurou. Então, ele gemeu. O rosto dela se iluminou num sorriso, e ela perguntou:

- Gil? Gil, tá me ouvindo?

A resposta foi outro gemido, não muito mais alto do que o primeiro. Alea continuou:

- Gil, sou eu, Alea. Eu vim te buscar, tá me ouvindo? Preciso que você me ajude! Consegue andar?

Gilbran tentou abrir os olhos, mas pareceu ficar tonto.

- Ele está dopado. Inferno! Vamos ter que carregá-lo mesmo, vem. Vem, Arthur! Anda!! - Alea estava extremamente ansiosa. Com a ajuda de Arthur, ela ergueu Gilbran novamente, olhou para o corredor e disse:

- Ok, reze pra gente não encontrar nenhum tira perdido no caminho.

E assim, os três começaram a rumar para a saída o mais rápido que podiam.


Fim do Capítulo XIX

Powered By Blogger TM